A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica. Crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. (fonte
wikipédia)
Leia a crônica abaixo e reflita sobre a questão proposta no final dela.
Ser pai é bom demais
Crônica
Caio Riter é porto-alegrense, autor de vários livros , alguns deles premiados
Houve um tempo em que eu acreditava que pais eram mães ou que podiam ser. No sonho de ser pai, sabia que homens e mulheres se tornam iguais na concepção. Diferenças inexistiam, era o que pensava. Afinal, basta transitar pelas ruas e encontraremos muitos pais em funções outrora maternas: bebês no colo, mamadeiras em apronte, carrinhos guiados com delicadeza por másculas mãos, futuros sendo empurrados pelos balanços e carrosséis da vida. Eu tinha essa certeza; a observação e o sentimento é que a gestavam em mim: pais e mães são indistintos na vida de um filho.
Na minha fantasia, eu ia sonhando e me preparando para ser pai-mãe. Homem repleto de maternidade. E como inexistem forças capazes de impedir que um sonho bem sonhado real se torne, virei pai. Curti desde o primeiro instante aquela semente que crescia no ventre da mulher amada. Experiência repetida. Duas outras mulheres vindo ao mundo. E ver aqueles rostinhos alegres, brilho de afeto resplandecendo a cada carinho, a cada conquista, sempre foi o presente maior. Fui, então, sendo o que queria ser: pai.
Fui homem de acordar na madrugada ao chamado da palavra-mágica; fui homem de me deitar no chão para virar barco, cavalo ou outra coisa. Fui homem de invenção de teatros; de canções de ninar, de histórias de boca, inventadas no momento exato da contação; fui herói de afugentar monstros horrorosos. Fui sendo pai do jeito que sabia e que julgava que um pai devia ser.
Mas jamais fui mãe.
Um pai, por mais que deseje, nunca será mãe. Só pai, no tudo de bom que um pai possa ser. Porém, apenas pai. Nada mais que pai.
Um pai, por mais pai que seja, não é mãe. A mulher que gera um outro ser estabelece uma relação de cumplicidade que homem nenhum atingirá. Nós, os pais, durante a gestação, na verdade, ficamos de fora. Por mais que sejamos chamados a participar, estamos de fora. Somos um apêndice numa relação visceral. Um coadjuvante que é apenas personagem secundário. Apenas o amigo do mocinho. Amigo que precisa descobrir seus modos de atuação, que precisa fazer-se necessário na urdidura da narrativa familiar, a fim de ser também fundamental parte na história daquele que vai tornando-se gente.
Mas jamais será mãe.
Não nutriu com sua vida a vida do outro, não partilhou com o outro toda a sua carga emotiva, não dormiu o outro no embalo do ritmo do seu coração. Não. E tudo isso antes mesmo do nascer.
As mães, esses seres com os quais estabelecemos uma relação eterna (para o bem ou para o mal), estarão sempre, me parece, na dianteira de qualquer pai que se arvore em mãe. Elas nutrem os filhos não apenas com seu sangue, mas com suas alegrias, tristezas, com suas certezas e hesitações. Mães alimentam seus rebentos com a própria vida.
Ser pai, é claro, tem lá sua força no crescer de um filho. É união eterna também. Mas não é sobre isso que falo. Falo de algo que vem de além do nascimento. Relação mágica, dupla, forte. Não sei se me entendem. Entretanto, é apenas isso: se ser pai é bom demais, ser mãe deve ser melhor ainda.
A Crônica toca num assunto cotidiano que é família. Como você sente o papel de pai e o papel de mãe na vida dos filhos? Existem situações específicas para um ou para outro? Escreva sobre isso, estando na condição de filho.